sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A CIÊNCIA BRASILEIRA É INVISÍVEL?


Todos conhecemos os desastrosos ataques contra o Japão por meio da bomba de Hiroshima, um assalto de alto poder destrutivo que foi superado em incríveis 40 anos e esta desenvoltura, segundo o diretor do MeSci (National Museum of Emerging Science and Innovatio), deve-se à ciência. A qualquer momento, se sentirmos vontade, com um clique poderemos acessar ao conteúdo científico produzido pela NASA ou Harvard e sabemos muito bem a que eles se dedicam, pois cada publicação de artigo será anunciada pelos mais famosos jornais mundiais. Cientistas responsáveis pela pesquisa concedem entrevistas e se comunicam com a sociedade como se quisessem dizer “Oi! Estamos aqui e fazemos ciência. Você está investindo muito bem seu dinheiro!”. Potências investem em ciência como investem em educação e sabem que as duas coisas na verdade, não são distintas. Contudo, como explicar ao brasileiro que ciência é importante e que sem tecnologia e educação não há bem-estar social sendo que vivemos em uma sociedade em que a maioria é analfabeto científico? Como dizer que expandindo estavelmente a conformação genética do DNA cientistas americanos construíram organismos sintéticos capazes de guardar muito mais informações à pessoas que não possuem acesso a educação de qualidade ou estão na extrema margem social? Como podemos investir no real e efetivo jornalismo científico de modo que a sociedade finalmente reconheça um cientista como profissional, cujo o trabalho influencia a dinâmica social mil vezes mais que futebol e novela, que foi pela ciência que sua água é tratada, que se cozinha ou até mesmo se assiste TV e permanece no facebook duas horas seguidas interagindo com as pessoas? Por que cientistas brasileiros e estudantes de talento estão se retirando de nosso país? São muitas as perguntas que devíamos tentar responder e não vou elenca-las todas aqui, já que se tornariam enfadonhas. Aliás, é isso que a maioria dos brasileiros pensam sobre ciência, é “chato” tirar um tempo para atualizar-se sobre as pesquisas científicas ou, pelo menos, conhecer quais instituições fazem ciência no país. É difícil lermos ao menos um resumo de artigo científico e discutirmos os fatos a que se relaciona. De certa forma, foi incutido na mente do brasileiro que ciência só serve quando é divertida e quando dá origem a teorias mirabolantes, polêmicas, afinal isso alimenta o imaginário das massas populares, o que resulta na desconstrução científica, ou seja, a ciência perde o valor. Reclamamos tanto de problemas alarmantes ao nosso redor e apontamos para o governo, como se o mesmo configurasse o único constituinte do Estado, nos esquecemos, por fim, de nos indagar quais atitudes, como indivíduos, devemos exercer de modo a contribuir para a mudança efetiva.

Por meio das imagens divulgadas pela NASA foi possível
enterdermos melhor o que a missão não-tripulada nomeada
"Cassini" foi fazer em Saturno e para quê fora construída.
Isso garante que a população conheça em que investe seu dinheiro.


Todos os anos somos agraciados com medalhas científicas e prêmios, entretanto, quem se importa com a Olimpíada de Biologia, física, matemática e etc. quando se tem as partidas do “Brasileirão” para assistir com os amigos e a família? Quem deseja que o filho na favela seja cientista e não jogador de futebol? É simples: não vemos cientistas na TV, não os vemos! São quase invisíveis e nem mesmo possuem o título de profissionais. Não há motivos para que a mídia os apresente a sociedade, não é fashion, não é tendência e não é talento. Pois, segundo a lógica da TV brasileira, talento se resume somente a futebol, música e atuação. Esquecem-se que é necessário ter talento para a pesquisa científica, que precisamos dar voz a quem faz ciência de verdade. Ao investir-se em ciência investimos no presente e no futuro. Devemos extinguir o paradigma de que ciência de base não é importante e que não oferece benefícios efetivos à sociedade. Sabemos que a maioria das agências de fomento valoriza o número de trabalhos publicados por um cientista e não a qualidade da ciência produzida. Nos laboratórios os maquinários falham, é difícil adquirir reagentes, não há concessão de bolsas e diante de todos estes problemas, a comunidade científica desanima.

É necessário extinguir urgentemente a ideia de que cientista cruza os braços no laboratório e recebe bolsa pra nada. A sociedade precisa saber no que investe e para isso, é preciso haver a divulgação científica e como fazer isso em um momento em que centros de pesquisa param e trabalhos importantes são prejudicados? Cientistas são, antes de tudo, agentes sociais, entretanto, o método científico torna a ciência de certa forma, lenta aos olhos da sociedade que aprecia resultados rápidos e efetivos. Fica evidente, entretanto, a presença da ciência em episódios como a fraude do leite em 2013, em que os bolsistas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) idealizaram um método muito mais rápido e efetivo de detectar as alterações onde utilizaram um volume de leite mil vezes menor do que no teste anterior, este fato foi muito importante para o bloqueio dos lotes comprometidos. Entretanto, a despeito da contribuição para a sociedade, as bolsas para estes pesquisadores foram extintas em junho de 2015, devido ao corte de verbas na educação e ciência. Para o governo é fácil cortar verba de um setor que a sociedade desconhece, torna-se simples a manipulação. Segundo uma pesquisa feita pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) 87% dos brasileiros não lembram o nome de alguma instituição que se dedique a pesquisa científica no país. Uma outra pesquisa feita pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na Universidade Federal de São Carlos em SP, concluiu que o brasileiro diz confiar na ciência mais que em esporte, política e arte, entretanto somente 6% recordam o nome de um pesquisador brasileiro e somente 13% conseguiram apontar um nome de um órgão de pesquisa nacional. Quase todos os entrevistados citaram a dificuldade de acesso a espaços como museus de ciência, o que explica os números baixíssimos na visitação destes locais, o que , segundo os coordenadores da pesquisa, ajuda a compreender o interesse e a falta de familiaridade com o tema. “O fato é que, infelizmente, não temos celebridades na ciência” declarou Aldo Rebelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação como resumo dos resultados alcançados na pesquisa.

Há o interesse em saber mais sobre a dinâmica cientifica, contudo, a grande parte da população não encontra meios de acesso a esse conteúdo, não está intimamente ligada a ele. A TV é o principal meio para adquirir informações sobre ciência e tecnologia utilizada por 21% dos entrevistados, o que não garante nada, já que não há a devida divulgação de pesquisas neste meio. Constata-se que as pautas que abordam Ciência e Tecnologia têm sido reduzidas ou desapareceram dos principais jornais do país, os quais quando falam de ciência, abordam avanços em outros países. A maioria declarou ainda que raramente busca informar-se sobre o tema em fontes como rádios, jornais, revistas, livros e conversas com amigos. Apesar do número de pessoas que possuem a internet como fonte de informação científica ter aumentado, precisamos investir na divulgação efetiva, tornar nossas conquistas reconhecidas, como o caso do matemático Artur Avila (primeiro formado no Hemisfério Sul a ganhar a medalha Fields, condecoração máxima na área) ou a neurocientista  Suzana Herculano-Houzel  que construiu um método para a contagem de neurônios do cérebro humano, descobrindo que o real valor seria 86 bilhões e não 100 bilhões como acreditava-se anteriormente, também foi dela e do físico Bruno Mota um raro trabalho assinado inteiramente por brasileiros publicado na revista Science (a origem das dobras da parte mais externa e volumosa do cérebro). A cientista, contudo, deixou o Brasil em 2016, pois após altos e baixos em laboratórios brasileiros tomou a decisão entre sair do país ou fazer ciência com recursos miseráveis.

O que você acha que pode fazer para amenizar o problema? Comece aprofundando-se em nossas referências (Procure links de artigos também no corpo do texto):

Sites:

Listagem das Profissões Regulamentadas: normas regulamentadoras. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/regulamentacao.jsf

Distribuição de verbas por ministério/órgão. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/144498.html?timestamp=1262717578780

A ciência brasileira está em crise e a culpa é dos cientistas. Disponível em: http://scienceblogs.com.br/rainha/2015/09/a-ciencia-brasileira-esta-em-crise-e-a-culpa-e-dos-cientistas/

Desenvolvimento do Japão deve-se à ciência. Disponível em: http://portal.aprendiz.uol.com.br/content/desenvolvimento-do-japao-deve-se-a-ciencia

Brasileiro confia na ciência, mas não conhece cientistas. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saudeciencia/226362-brasileiro-confia-na-ciencia-mas-nao-conhece-cientistas.shtml

Pesquisa: brasileiro se interessa, mas sabe pouco de ciência. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/pesquisa-brasileiro-tem-interesse-mas-sabe-pouco-sobre-ciencia,6397e9e9343fb3b346623c6e8c1e91533enuRCRD.html


Vídeos

A ciência brasileira faliu?
Disponível em: https://youtu.be/23fWUO-Z1go


Fazer ciência no Brasil:

https://youtu.be/mqVj05EtbtI
https://youtu.be/2p6-yoicW-M
https://youtu.be/Pn7LQqqC1bk

Canal recomendado:

https://www.youtube.com/user/PesquisaFAPESP