ECOLOGIA I
Uma definição contemporânea de “Ecologia” pode ser entendida como “o estudo científico das interações que determinam a distribuição e abundância dos organismos através do tempo”. Segundo o livro “Ecologia de Populações e comunidades” a palavra foi usada inicialmente por Ernest Haeckel, em 1869. O naturalista e biólogo definiu Ecologia como “o estudo científico das interações entre organismos e seu ambiente.” Conceito que sofreu alterações com C. J. Krebs, em 1872, o qual a definiu como “O estudo científico das interações que determinam a distribuição e abundância dos organismos.”, portanto, estritamente ligada ao processo evolutivo. Ao referirem-se a interações estão considerando as influências externas exercidas sobre o organismo, as quais são nomeadas como fatores bióticos e abióticos.
A existência de processos como os diversos nichos ecológicos, regulam o fluxo de energia e matéria, os quais são sustentados por indivíduos diversos, resultando na biodiversidade que garante a estruturação do sistema. O conceito biológico de Ecologia não está relacionado a ambientalismo ou sustentabilidade, para os ecologistas é importante compreender como a biodiversidade afeta o sistema.
Os níveis de organização ambiental obedecem a seguinte ordem:
Indivíduo ou organismo: Nível mais simples. Uma espécie de abelha, por exemplo.
Uma abelha é um exemplo de indivíduo/organismo presente no ambiente. |
População: Pode ser definida como um grupo de indivíduos da mesma espécie que ocupam uma determinada área em determinado tempo e que apresentam alta probabilidade de cruzamentos entre si em comparação a outras populações. As populações podem ainda ser subdivididas em grupos denominado demes ou população genética (indivíduos em uma população que possuem alta probabilidade de cruzamento entre si). O conceito de população possui várias abordagens, a descritiva (baseada na descrição do mundo natural), abordagem funcional (relaciona-se à dinâmica energética e numérica dos sistemas ecológicos) e a evolutiva (relacionam-se a mecanismos remotos que explicam comportamentos das populações atuais).
Uma população de abelhas: indivíduos da mesma espécie ocupando o mesmo espaço. |
Comunidade ou biocenose: As comunidades possuem propriedades coletivas, ou seja, são populações de indivíduos de espécies diferentes na mesma área interagindo entre si. Os organismos interagem em processos de mutualismo, parasitismo, predação e competição, o que significa que estas interações nem sempre são harmônicas para as espécies. Comunidade pode ser ainda definida como uma hierarquia de hábitats diversos.
Um dos maiores exemplos de comunidade é a marinha, a qual abriga diferentes populações de espécies interagindo de maneiras diversas. |
A mata de araucárias é um ecossistema do bioma que ocorre na região sul do Brasil. |
A biosfera é a junção dos componentes terrestres que permite o surgimento e desenvolvimento da vida. |
Componentes e Funcionamento dos Ecossistemas
Os principais constituintes de um ecossistema terrestre ou aquático são:
Fatores abióticos (a = não; bio = vida): Fatores físicos e químicos. Todas as influências que os elementos vivos ou organismos recebem dos constituintes do ambiente em que se inserem. Como, por exemplo, luz, temperatura, atmosfera, nutrientes minerais, etc.
Nutrientes como as vitaminas são fatores abióticos encontrados no ambiente. |
A luz solar ou radiação também constitui o ambiente como fator abiótico. |
Bactéria é um fator biótico do ambiente que pode afetar positivamente ou negativamente outros organismos do ambiente. |
Fatores abióticos limitante da distribuição e abundância dos organismos vivos
São os fatores responsáveis pela diversidade das espécies em regiões diferentes, o que explica a existência de certas características em locais específicos, as quais estão ausentes em outros. As variações genéticas permitem que as espécies possam se adaptar aos ambientes (como foi tratado no último post sobre evolução II), essas mudanças, entretanto, estão condicionadas a fatores limitantes como: Temperatura, Umidade, pH, salinidade e recursos, sendo estes fatores abióticos.
Temperatura:
Este pode ser um fator limitante direto ou indireto no ambiente em diversos sentidos, como por exemplo, no controle da reprodução da espécie, no ciclo de vida, seu desenvolvimento etc. Um exemplo de como este fator é importante quando nos referimos a distribuição e abundância, é um artigo publicado pela UFRRJ, intitulado “Condições de ambiente favoráveis à germinação e à infecção de Puccina substriata var. Penicillariae em diferentes cultivares de milheto pérola”. Em um resumo bastante simplista, o que os cientistas perceberam foi que os urediniósporos (esporos da bactéria Puccina substriata var. Penicillariae responsável pela infecção) no milheto pérola (o qual é utilizado como palha, forragem, silagem e para a alimentação humana) desenvolvem-se com maior facilidade na faixa de temperatura de 19 e 22°C, ou seja, um dos fatores a que o crescimento dos urediniósporos está condicionado é a temperatura. Portanto, a gravidade e desenvolvimento da infecção nesta espécie de planta dependerá também desse fator. Em um exemplo mais simples, podemos citar o urso polar, o qual está adaptado a uma temperatura específica, o que significa que, caso o mesmo seja retirado deste ambiente, provavelmente pode vir a sucumbir em temperaturas mais altas. A temperatura é um fator abiótico limitante para esta espécie.
Imagem retirada do artigo Ocorrência da ferrugem (Puccinia substriata var. penicillariae) do milheto na região Oeste do Estado do Paraná. |
Obs: É possível que as mudanças climáticas ocorrentes no planeta atualmente possam influenciar a distribuição e abundância de certas espécies.
Umidade:
A disponibilidade de água é um fator importante, já que muitas espécies dependem da umidade para reprodução e desenvolvimento (o caso das briófitas). A seca pode levar as espécies a morte ou a adaptação continua de sua estrutura (como os cactos encontrados em diversos locais carentes de umidade). Um local seco não necessariamente significa ser um local com ausência de água. Um solo pode estar saturado de água congelada a qual não será absorvida pelas plantas que sofrerão efeitos negativos. As características físicas e químicas dos líquidos ao qual espécies encontram-se também podem influenciar sua distribuição. Indivíduos de água doce possuem estruturas diferentes dos indivíduos de água salgada, isso significa que a umidade é um fator limitante do ambiente para estas espécies.
pH significa potencial hidrogenionico, pois varia conforme a concentração de íon [H+] e indica se a solução é ácida (abaixo de 7), neutra (7) ou básica (acima de 7), sendo que a escala varia de 0 a 14 na temperatura de 25°C. A influência deste fator como limitante está diretamente ligada a sobrevivência das espécies, por exemplo, a grande maioria dos organismos não tolera pH abaixo de 3 ou acima de 9. Algumas espécies de bactérias como as espécies Spirulina platensis é adaptada a ambientes alcalinos com pH chegando a 11 e a Thiobacillus ferrooxidans que tolera pH entre 0 e 1, podem ser consideradas exceções. O pH pode influenciar até mesmo na disponibilidade de alimento para uma espécie, como por exemplo em lagos onde a alimentação depende da disponibilidade de espécies de fungos que crescem em pH específico ou na distribuição de plantas em um solo.
Spirulina platensis |
Thiobacillus ferooxidans |
Salinidade
As espécies de vegetais e plantas adaptadas a viver em ambientes salinos (halófitas) apresentam dificuldade de absorção de água e resistência osmótica. A distribuição de plantas em dunas é um fator determinado pelo modo como o vento direciona o sal. Algumas espécies preferem ficar expostas enquanto outras preferem abrigarem-se. As concentrações salinas ocorrem com mais recorrência em zonas áridas onde há a maior concentração de sal na superfície, fazendo com que algumas plantas possuam dificuldade na absorção de líquidos.
Algumas plantas ficam expostas ao sal que é levado pelo vento que circula entre as dunas. |
Recursos
Os recursos podem ser escassos e indisponíveis para certos indivíduos o que faz com que o crescimento das populações de indivíduos seja limitado e não permanente. Para adquirir os recursos em falta no ambiente é necessário que haja competição entre espécies diferentes (interespecífica) ou até mesmo entre indivíduos da mesma espécie (intraespecífica). A estratégia utilizada por cada espécie para superar os limites do ambiente é que determinarão o conceito de evolução tal qual Darwin elucidou em sua teoria (ultimo post).
Ninhos são exemplos de recursos escassos do ambiente, pois os mesmos podem ser ocupados por uma espécie somente, sem compartilhamentos. |
Nicho ecológico
Pode-se conceituar nicho ecológico basicamente como um conjunto de condições em que um indivíduo se reproduz, vive e a função que exerce em um ambiente. Segundo a definição dada por Elton em 1933, a palavra “nicho” descreve de que maneira um animal vive. Este conceito foi aprimorado em 1957 por Hutchinson, o qual determinou que o nicho ecológico seria as maneiras pelas quais a tolerância e a necessidade interagem na definição de condições e recursos necessários a um indivíduo ou a uma espécie, com o objetivo de cumprir seu modo de vida. Portanto, não se pode pensar erroneamente que um Nicho ecológico significa propriamente o local em que se encontra uma espécie, mas sim, a função que esta ali exerce.
A exemplo podemos citar o nicho ecológico da zebra que envolve sua fonte de alimento (o que come), seu predador (o que dela se alimenta), a relação que exerce com outras ou com sua espécie, o modo como explora os recursos ambientais (uma zebra alimenta-se de ervas, arbustos e bulbos enquanto que a girafa alimenta-se das folhas de acácias, mesmo que as duas pertençam ao mesmo ambiente) etc. O modo como a espécie tende a interagir com o meio determina seu nicho.
Girafas e zebras, além de pertencerem a espécies diferentes, seus nichos ecológicos são distintos. |
Referências
Revista
Guia do estudante: Biologia. Local de publicação: São Paulo-SP. Abril, 2016. 145pg.
Livro
PERONI, N. & HERNÁNDEZ, M. Ecologia de Populações e Comunidades. Florianópolis-SC, 2011. 125pg. Disponível na web em: https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=1551362
Artigos
PIMENTEL; C. et al. Condições de ambiente favoráveis à germinação e à infecção de Puccina substriata var. Penicillariae em diferentes cultivares de milheto pérola. Rio de Janeiro-RJ, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-41582007000500005
COSTA, A., STANGARLINI, J., FRANZENER, G., Ocorrência da ferrugem (Puccinia substriata var. penicillariae) do milheto na região Oeste do Estado do Paraná. no.3. Paraná - PR. Summa phytopathol, 2009. vol.35. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-54052009000300017